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“Sem tanta doidice”

“Sem tanta doidice”

O Patriarca Albino Lucciani de Veneza (depois eleito Papa com o nome de João Paulo I), tem um livro muito inspirador, “Ilustríssimos Senhores”, onde ele escreve cartas a figuras ilustres e importantes de várias épocas históricas; uma dessas cartas é dirigida à Maria Tereza, rainha de Áustria (entre 1740-1780), em pleno iluminismo, e tem um título interessante, quase engraçado: “Bonita, sem tanta doidice”.
Lucciani, diz à sua Majestade que dentre as figuras de poder de seu tempo, talvez ela seja a “menos feia”. Como imperatriz ela não fora, realmente tão admirável, mas como esposa e mãe saiu-se muito bem! Teve 16 filhos de um marido infiel ....
Uma das filhas de Maria Tereza – Maria Antonieta – tornou-se rainha da França e, falavam mal da maneira como se vestia e, conta o Patriarca que certa feita a rainha mãe recebeu um retrato no qual a filha “ostentava na cabeça um monumental catafalco, feito de frutas, flores, plumas e de dez metros de tecido”, cá entre nós seria comparada a uma Carmen Miranda; ao ver a fotografia, a mãe sabiamente escreveu para a sua filha: “não me parece deva a soberana duma grande nação vestir-se deste modo. É preciso seguir a moda, mas não exagerá-la. Uma rainha bonita não precisa de todas essas loucuras na cabeça.”
O intuito de Lucciani, é claro, não era escrever à rainha da Austria, morta quase trezentos anos antes; o Patriarca estava escrevendo para os homens e mulheres da década de 1970, a respeito das novidades, das modas que chegaram com a chamada revolução de 1968. Era a época das roupas curtas ... O que em tempos de Maria Tereza sobrava exageradamente na ornamentação da cabeça da “infeliz Maria Antonieta”, faltava agora nas roupas das muitas moças de família do tempo do Patriarca de Veneza.
O patriarca ressentia o que alguns ressentem hoje: a moda precisa encontrar uma posição moderada; o consumo deve achar um modo de não comercializar pessoas; a moda deve ter cuidado com as loucuras que chegam através, não somente de roupas curtas ou longas, mas que hoje danificam o corpo (tingimentos para cabelos, tatuagens, silicone, brincos, piering etc). Certamente as moças, as mulheres, os rapazes e homens de hoje devem andar na moda, mas “sem tanta doidice”

Padre Elias Sales, Pároco