Youtube TV

Assentados paraibanos reativam engenho de cana-de-açúcar

cana de açucarO que já foi uma atividade exclusiva dos senhores de engenho, no Brasil, hoje ganha novo significado no assentamento Curralinho, no município de Paulista, no Sertão paraibano, a cerca de 410 quilômetros de João Pessoa, nas mãos de agricultores familiares. Trabalhando em sistema de mutirão, os assentados reativaram, com o apoio da Superintendência Regional do Incra na Paraíba (Incra/PB), um engenho de cana-de-açúcar que produz rapadura, mel de engenho e até alfenim.
A retomada da produção do antigo engenho só foi possível graças à atuação da Central das Associações dos Assentamentos do Alto Sertão Paraibano (Caaasp) – entidade contratada pelo Incra para executar serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), em 33 assentamentos da reforma agrária no Estado, beneficiando 1.100 famílias assentadas. Em 2012, a entidade identificou que o grande sonho dos assentados era reestruturar o engenho para retomar a moagem da cana-de-açúcar.
A Caaasp reuniu os assentados e elaborou um projeto para reforma do local no valor de R$ 10 mil, transformando a área do antigo engenho em uma Unidade Demonstrativa (UD) de Beneficiamento de Cana-de-Açúcar. As obras foram realizadas pelos próprios assentados, que trabalharam em regime de mutirões.
Processo coletivo de produção
O processo de produção do Engenho Curralinho é completamente diferente do adotado nos engenhos de açúcar na época do Brasil Colonial, quando os senhores de engenho utilizavam a mão de obra escrava de origem africana para fazer os trabalhos mais pesados do processamento da cana-de-açúcar. Com meios de produção socializados e justas relações de trabalho, a exploração desaparece e, com a reativação do engenho entra em cena uma nova forma de reforçar a renda das 40 famílias do assentamento Curralinho.
As diferenças começam já na colheita da cana-de-açúcar, que é regada a música e respeita a necessidade de descanso de cada trabalhador, que pode parar o trabalho sempre que desejar. Não existe fiscais, nem capatazes. O menor valor pago, como diária, para o assentado que participar do corte da cana é de R$ 90.
Os assentados interessados na moagem podem plantar a quantidade de cana-de-açúcar que quiser e utilizar o engenho pelo período necessário para moer toda a cana cortada. Caso o assentado não queira moer sua produção, pode vendê-la para o assentado que esteja responsável pela moagem do engenho naquele período. Cada dia de moagem no Engenho Curralinho envolve cerca de 20 trabalhadores.
É o caso do agricultor Raulino José da Silva, de 70 anos, que plantou dois hectares de cana-de-açúcar, suficientes para produzir cerca de 11,5 toneladas de rapadura que foram vendidas nos municípios de Paulista, São Bento e Sousa a preços que variam entre R$ 5 a R$ 6 o quilo. Já o alfenim só é feito para consumo interno do assentamento. O assentado explica com orgulho o direito conquistado com a reforma agrária. “Antes eu trabalhava de meia e agora eu estou trabalhando só para mim. Assim eu consigo vender bem e vejo vantagem porque ainda consigo ter algum lucro”, declarou Seu Raulino.
Para coordenar o trabalho de moagem da cana-de-açúcar que produz, Seu Raulino conta com a experiência do agricultor Raimundo da Silva, que trabalha em engenhos há várias décadas. “Eu faço isso há mais de 40 anos. Só de olhar eu sei o ponto da rapadura”, falou o experiente Raimundo, que é natural da cidade de Lastro.

Blog da Simone Duarte